Luto, tristezas e uma certa paz - 3

Os anos em que ela esteve adoecida foram longos, quase seis anos respirando por aparelhos, sem movimentos. O apertar as pálpebras, o movimentar os lábios era a sua forma de conversar comigo, responder-me. Ela sempre me respondia. Cuidamos dela. Cuidamos.  E desenvolvemos com ela vínculos de finíssima porcelana e delicados fios de ouro. O luto não é apenas a dor da perda, também é outra coisa. É um campo florido de pensamentos e sentimentos que não posso fazer de conta que não existe, está dado para o meu trabalho, e exige um silêncio para o seu cultivo.

2 comentários:

Paula Barros disse...

Dauri, não sei porque, ler esta sua fase me fez retornar ao seu blog em Abril-2009. Eu, eu digo eu, me religo com o que está escrito lá. E vejo sentido em lhe repetir um comentário meu.

"não desperdiçar as cinzas, arremessá-las no jardim como adubo" - (trecho seu)
Quantas e quantas vezes precisamos nos refazer das cinzas, adubar a nós mesmos, para continuarmos sorrindo e depois irradiarmos luz e energia ao outro.

E assim imagino, imagino que o seu luto, as suas reflexões, vão servir de adubo, para florir para si, para o outro, novos entendimentos de luto, perda, dor,e tudo mais que a perda e o luto trazem.

Um forte abraço!

maria carol disse...

Que boniteza ouvir sua voz a falar da vida, do luto, da luta...

ah amigo, os lados multiplicados estão a multiplicar em mim uma larga e bonita paz porcelanada...

obrigada por compartilhar tanta delicadeza.

abç