saem por ai esses olhos de medo, os sustos e ventos, um aperto.

abre-se no esforço o peito para o ar.

caem os dias nas pedras e nos tropeços, mas o que se quer, o que se quer é só um sossego.

sim, um dia de sol à beira mar.

ah, as frases, as frases são intervalos.
quando o mundo ainda pode fazer surgir, faz surgir um sonho, por ai, até mesmo numa calçada ou numa soleira de porta.

talvez no batente de um tanque de lavar roupa.

faz-se a barba sem espelho.

faz-se a barba de olhos fechados imaginando o espelho.

bem, isso é apenas outro modo de dizer viver uma esperança.


aqui caem palavras das árvores e formam frases secas no chão.

põe fogo, não valem nada, não valem nada além de uma fogueira de chamas bonitas e rápidas.
alumia as frases ó gato.

tens nos olhos estrelas de Andrômeda, vizinha e tão distante desta via.

mia, mia aquelas palavras lácteas que um faraó poetizou olhando o céu em noite escura.

mia, mia palavras luzes, poesias.

as frases mirradas que acendo, apesar do esforço, nada alumiam a vida e as ruas.

mia as ruas, os muros, as esquinas, as frases ilumina.
é o que diz, o que condiz, uma frase, frases, nada mais.

não há mais versos, afirmo, divirjo.

diversos modos versus poetas, dizer frases.

diz o dia que acaba em domingos respingos frios de frente fria.

ave Maria, a hora já passou, seis, um pouco mais de seis, seis e alguns minutos, sei.

Não sei, vejo, sinto pelo meio, a palavra vai trôpega pela frase morrendo tardes.
o que vibra no corpo, a vida, desenha poesias, muitas vezes com lápis de pontas rombudas.

ficam marcas nas palavras e na língua cicatrizes.

modulam-se vincos ao lado da boca como vírgulas entre sorrisos e tristezas.

o olhar se acendeu na brasa dos lábios quando se pronunciou: fiz amor com os capítulos da vida.

uns, alguns, só um, muitos foram um bom amor.

outros... outros foram amor sem or, sem am, coisas quebradas, porcelanas.

nem sei se dor, passou, tentativas, uma flor, ou outra.
já não escrevo poemas, escrevo frases.

que palavra fez esta frase, me pergunto, que passo ela me faz dar.

ai, aqui caberia uma vírgula, para respirar e dizer, vou, vou dar um novo passo.
na trilha de um dia encontrou um sumidouro, um lugar no horizonte onde se põem o sol e alguns outros olhares.

não se acuda os que caem no horizonte, estes sonhos e desejos, e as asas recolhidas sem voo.

(as frases se sobrepõem aos versos, tentativas de verão, invernos, contudo).

há um grito, um gemido, uma despedida com ares de canção, espera de alegrias, mas é preciso voltar para o leste, outra vez, apesar da fadiga.
arranhou uma dor no coração, quis dizer sentiu.

não sabia ao certo se de ontem ou de hoje.

era uma palavra árdua, pesada de dizer, como se ele fosse gago.

era uma dor, uma flor de uma planta sem valor, uma dor.

ergueu os olhos e viu o céu azul, azul, lindo.

havia ali no ar um desejo de viver, viu, ele viu, não é mentira.

animou-se por um momento.

levantou-se, fechou o livro e voltou para o caixa do supermercado onde trabalhava.