enquanto vai o vento enxurrada abaixo, fraseio.

resseco, encharco-me de um outro sentido.

não sucumbo, fujo.

a frase ficou por entre as páginas do livro do Kundera no verso de um panfleto do café.

coisas boas.

frases assim perdidas de vida, vida porém.

linda a vida, não sucumbe, foje e se arranja.

se rearranja.

rearranjar tem um som bonito.
o silêncio da montanha não era silêncio, era paz, a somatória de pequenos ruídos.

o vento desceu na enxurrada, rodopiou o jequetibá-rosa e caiu no riacho, engravidando-o.

no que vai um suspiro é do fundo do peito que vai, na viagem de um desejo.

a frase é o desenho do vento aquecido nos alvéolos.
de dizer, aquelas frases, lados multiplicados.

frases de dizer nada, dizer coisas, coisas como lavar as mãos, tomar um copo d’água, passar o olhar pela janela.

de amar dizer, amor de dizer, loucura, síndrome de ser.

diamantes antes do olhar vidrado, antes, lama de tudo, o silêncio da montanha na enxurrada.
lindo, o trem margeando o rio.

mas a frase, a frase curta e sem beleza.

uma leve tristeza pousou sobre o coração, pesou mais do que devia.

a casa pequena contrapondo-se ao sol poente formou uma sombra grande.

tudo o que se pode agora é ouvir a música que vem sabe-se lá de onde.
aquele pássaro que voa sobre o lago, o que diz?

diz a frase que o peito guardou entre um respiro e outro, a doce beleza de um dia de setembro.

mas o voo sobre o lago pintou uma canção de fim de domingo.

quisera um pássaro sobre o lago florir-se em estrada, outra estrada que não estas frases.
um amor desfeito em outro, um tijolo de antigo sobrado... ainda é amor.

sobrou uma saudade, esperança pequena, hojes grandes.

a porta recolocada abre-se em nova casa, ainda é estranho o vazio, depois o peito se acostuma, suporta.

reconstruir do que se tem nem sempre é fácil, entulhos de dias e sóis.

paredes sem maiúsculas? O que se levanta se escora em frases frágeis.
elas se rasgam das tardes, dizer o que elas dizem haverá de ajudar.

as letras em certos dias recolhem vôos,  de aves alvissareiras, mesmo que vespertinas.

de qualquer modo as palavras movimentarão as turbinas e uma ou outra lâmpada se acenderá logo mais à noite, luz para uma xícara de chá de folhas de laranja da terra.

ou de jasmim.

uma letra poderá se adensar numa frase com um certo sentido, talvez um perfume de lembranças boas.

do sol de amanhã.

dizer frases faz as voltas de traduzir pela metade, uma parte é frase outra parte é dor.

elas enganam, tome-se cuidado, não são poemas.
correu pela curva tão certo, rápido, que reta parecia a curva, apenas um frio de vísceras pendidas.

ao olhar todavia a curva, era, pois que era... a vida.

que Linda!

a frase lida de relance no muro, um reparo no olhar, a frase escrita, resquícios de poesias perdidas, inúteis registros.