Tristezas, luto e uma certa paz - 26
Está tudo tão longe... longe e perto. Eu explico. Está lá no fim da tarde, é quase noite, chove, e o céu despovoa-se de qualquer astro. Mas está aqui na dobra da manga da minha camisa branca. No luto o tempo é outro... mas a dor é como um livro que já foi lido, é preciso jogá-lo ao lado, sim, tomar outro. Não quero outra dor. Está tudo tão longe, frio, tão perto e quente, mais que isso... está aqui. Nas fibras, vibrações, órgãos e linhas. Vou pelas palavras procurando um ancoradouro, mas nem quero ancorar. O que quero? Definitivamente tudo é hoje. Eu quero um amanhã mesclado de ontens. Ah, não é fácil aceitar esse hoje egoísta que se levanta e vai adiante em amanhãs abusando e debochando das minhas perdas. Percorro as palavras e elas me fazem forte, momentaneamente forte. Talvez seja bom ser permanentemente forte. Mas, meu Deus, nas vezes em que fui forte, fui forte de fraquezas, usando-as, ajeitando-as de tal modo que pareciam força, usando-as como tijolos numa parede precariamente erguida.